Em geral ouvimos que fugir é coisa de medrosos. Que aquele que foge não tem coragem ou é fraco. De fato, muitos fogem por esses motivos. Mas existe uma fuga que é corajosa e inteligente. É própria dos que entendem que algumas situações não merecem o investimento de força ou então estão além de nossa capacidade de vencer ou até de lutar.
Fugir por vezes é uma estratégia valorosa e se mostra indispensável para alcançarmos alguns objetivos na vida. Às vezes fugir é um ato mais corajoso do que enfrentar uma realidade antes do tempo ou com menos recursos do que é necessário. Quando e como reconhecer os momentos ideais ou necessários para fugir? Sendo honesto, estratégico, humilde e corajoso.
Ser honesto é reconhecer a grandeza de um desafio ou sua pequenez. Ao mesmo tempo, reconhecer suas fraquezas e fortalezas. É ter uma autoimagem adequada ao tamanho do que se pretende encarar e enfrentar. Essa honestidade é crucial para o enfrentamento ou a fuga. Quando somos honestos sabemos exatamente se temos condição de enfrentar uma situação ou se precisaremos de ajuda para isso. Fugir do primeiro gole é uma fuga necessária para o alcoólatra, por exemplo.
“Fugir por vezes é uma estratégia valorosa e se mostra indispensável para alcançarmos alguns objetivos na vida.”
Ser estratégico é verificar qual o melhor caminho para enfrentar uma situação. É escolher a ferramenta correta, investir o tempo e energia necessários. Dependendo da demanda que uma situação a ser enfrentada exige, então talvez o mais correto seja fugir, mesmo, aguardando o tempo certo para agir. Adiar uma viagem internacional porque o dólar está em alta ou aguardar a melhora da economia para adquirir determinado bem, por exemplo.
Ser humilde é reconhecer a dura realidade de que alguns problemas são maiores do que nossa possibilidade de enfrentá-los. E, após reconhecer isso, pedir ajuda, estudar, fortalecer-se mental, física ou espiritualmente tornam-se atitudes naturais e que apenas um humilde – e nunca um autossuficiente – buscaria. Sem humildade começamos lutas que não podemos vencer e olhamos para os grandes obstáculos sem a admiração de quem entende como será difícil superá-los. Treinar mais antes de encarar uma prova de longa duração, por exemplo.
Por fim resta a coragem. Coragem é atitude forte e indica que alguém deseja conquistar, superar ou vencer alguma coisa. A coragem nos leva a enfrentar ou a fugir. E muitas vezes a fuga será resultado de muita coragem. Coragem para admitir que não é a hora certa, ou que não estamos ainda preparados ou que não temos condições momentâneas de vencer.
“Se o mais corajoso for enfrentar, mesmo sabendo que será muito difícil, então é isso que faremos.”
A coragem nos levará a duas distintas situações: decidir se é ou não o tempo de enfrentar e preparar-se para agir em decorrência do enfrentamento ou não. Se o mais corajoso for fugir, ainda que falem várias coisas ou que pareça total covardia, será isso que faremos. Se o mais corajoso for enfrentar, mesmo sabendo que será muito difícil, então é isso que faremos. A coragem é o último elemento desse processo que começa com a honestidade, se intensifica com a estratégia e se estabelece em humildade.
Se for necessário, fuja. Não por medo, mas sim pela convicção de que essa é a melhor coisa a ser feita. Em três ocasiões distintas a Bíblia nos recomenda fugir: da idolatria, da prostituição e das paixões (1 Co 10:14, 1 Co 6:18 e 2 Tm 2:22). Esses são exemplos de que fugir às vezes é mais sábio do que enfrentar e de que algumas situações, que se apresentam como derrotas, são vitórias que o tempo revelará.