A Revista Batistas SP (BSP) trouxe o testemunho escrito pela capelã hospitalar e missionária da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), Sônia Costa de Lima. O relato compartilha a importância de levar a mensagem de consolação e reconciliação a todos, e mostra, ainda, que ouvir é tão fundamental quanto falar. O assunto foi compartilhado aos leitores e leitoras na edição especial para o trimestre de julho a setembro de 2020 e está reproduzido abaixo.
A BSP é a publicação oficial da CBESP
As páginas da revista formativa e informativa produzida pela CBESP oferecem em seu número 21 outros textos – alguns já disponíveis no site, como do pastor Genilson Vaz, presidente da instituição, e do pastor Adilson Santos, do diretor executivo do Conselho de Administração e Missões da CBESP. Ainda há a terceira reportagem da série “Doar é Amar”, produzida pela jornalista colaboradora Edna Geraldo. Para ter acesso a essa ou a outras edições da Batistas SP, clique aqui.
Bom ouvido é fundamental*
Nos hospitais, nas igrejas, faculdades, escolas, bairro em que moramos, vizinhos, em casa, e em muitos outros lugares, sempre há pessoas em crises, em sofrimento, seja no físico e/ou na alma. A depressão e o transtorno de ansiedade, doenças muito comuns em nossa época, estão presentes em quase todas as famílias. Suas causas internas (físico/orgânica) ou externas (situações e desafios enfrentados: perdas, traumas, violência, separações, solidão, rejeição, abandono etc.) devem ser tratadas, e, para isso, temos o tratamento que a medicina oferece, ou seja, terapia, mas não pode faltar o tratamento envolvendo a fé.
O trabalho com apoio espiritual aos que sofrem no físico e na alma (capelania) nos ensina sobre isso. Ele nos dá oportunidades de contemplar melhoras e recuperação mais rápidas, com a ajuda de um bom ouvido, uma palavra sábia e oportuna. E, ainda, uma oração “invadindo os Céus” e apresentando a preciosa vida que está sofrendo e em tratamento, expondo ao Pai do Céu tudo o que foi colocado por aquele coração, como sua preocupação e seus lamentos. “A alegria do coração transparece no rosto, mas o coração angustiado oprime o espírito” (Provérbios 15.13).
Levando salvação
aos perdidos e curando
feridos de alma
Magali Telma da Silva é enfermeira em um hospital em que sou capelã há mais de 15 anos. Eu a conheci fazendo devocionais semanalmente em seu setor, sempre muito pensativa após nossa reflexão na Palavra e oração. Procurava-me algumas vezes para fazer perguntas sobre o que havia ouvido sobre a Palavra e agradecia as orações. Em outras ocasiões se encontrava muito séria, com muitos questionamentos, enfrentando crises, revoltada (como acontece com muitos), mas sempre atenta às reflexões bíblicas, ouvindo e participando. Mas Magali mudou de setor e por alguns meses não nos encontramos mais.
Certo dia eu estava fazendo devocional com funcionários em outro setor, então a reencontrei! Cumprimentou-me com um grande sorriso e começou a relatar suas últimas lutas, entre elas a perda de seu esposo, dificuldades na família com os filhos (o que é muito comum, nos procuram após ouvir a Palavra para relatar e pedir ajuda e oração em suas lutas familiares), mas a boa notícia veio: ela havia se batizado e estava frequentando assiduamente uma igreja evangélica!!! Nesta ocasião me pediu ajuda para sua filha que estava com depressão, uma jovem de 19 anos, e eu, de pronto, dei meu contato para ela, a fim de agendarmos um encontro para atender sua filha. Havia iniciado esse trabalho, através do Instituto de minha igreja, de atendimento a pessoas com depressão, que era uma extensão da capelania.
Conheci então sua filha Dafne Cristina da Silva Santos, e, com muito carinho, começamos a cuidar dela, eu e mais uma equipe na igreja. Durante o tempo de atendimento (meses), entrei em contato com o antigo pastor dela, que eu já conhecia, pedindo a ele que a visitasse e a reaproximasse da igreja, pois ela havia se afastado devido a algumas crises. Ele atendeu Dafne com muito amor e carinho, e alguns meses depois ela estava sendo batizada nas águas e dando testemunho.
Magali acabou indo frequentar a mesma igreja que a filha, onde posso acompanhá-las, pois tenho contato com o pastor e família. Para glória de Deus, esse mês Magali participou do curso que ministro de capelania, deu seu depoimento sobre a importância desse ministério em sua vida e agora, perto de sua aposentadoria, deseja ajudar pessoas que sofrem na alma.
Sua filha Dafne, agora com 22 anos, ainda tem seus dias difíceis, mas sabe lidar com a tristeza quando ela vem, sem deixar que a domine, pois diz que com fé consegue lutar melhor. Pediu-me ajuda de como orientar pessoas ao seu redor sobre a importância da fé como um dos recursos para lidar com depressão e ansiedade, sem condenar nem julgar a pessoa, dizendo que sofre porque não tem fé!
Após aconselhamentos e cuidados pastorais,
Dafne professa a decisão por Cristo no batismo
Testemunhou para mim que não aceita mais a acusação de que quem tem depressão ou ansiedade é porque não tem fé, e que hoje, inconformada, só quer se defender com sabedoria e ensinar pessoas a entenderem a doença, bem como seu tratamento e cura, usando o recurso da fé, da medicina se precisar, encontrando um bom ouvido, um bom amigo, um instrumento de Deus! “O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado para consolar todos os que andam tristes” (Is 61.1-2).
Sonia Costa de Lima
Missionária CBESP e capelã hospitalar
*Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano IV / Edição 21).