Esperança anticorrupção gera desejo por renovação

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Tema penoso para pessoas honestas, a capa da edição janeiro-fevereiro da Revista Batistas SP (BSP) abordou a corrupção a partir da expectativa de mudanças mediante a renovação – não só dos quadros políticos, mas, essencialmente, de mentalidade.

Essa perspectiva anda mal das pernas no Brasil. Segundo levantamento anual divulgado no final de janeiro pela ONG Transparência Internacional, o País caiu cinco posições no ranking de percepção de corrupção, indo para a 105ª colocação em 2018. Em outras palavras, o brasileiro acredita que estamos nacionalmente mais corruptos – e com maior dificuldade para combater tal prática. Para os entrevistados, há motivos para esperança e para crer que o caminho não é fácil, mas está sendo trilhado.

Outros conteúdos da BSP 12 já foram publicados e estão disponíveis, como o artigo do presidente da CBESP, pastor Manoel Ramires, falando da importância de se revisar a organização convencional, a coluna do diretor executivo do CAM-CBESP, pastor Adilson Santos, sobre o engajamento do cristão na transformação social do País. A próxima edição será distribuída em março. Faça seu cadastro e passe a receber em casa sua BSP.

Um cenário para mudanças*

Ainda há grande expectativa de mudanças na estrutura política brasileira a serem promovidas por Brasília e pelos demais Poderes (Saulo Cruz)

Por Chico Junior

No primeiro dia do ano, candidatos eleitos em outubro tomam posse de seus respectivos cargos. O ato carrega em si – mais uma vez – a expectativa popular por mudanças. A crença está alta. Sete de 10 brasileiros disseram ao Ibope em dezembro que a equipe indicada por Jair Bolsonaro estava indo bem. Em outras palavras, um “recado” para manter o ritmo. Além de nova diretriz para a condução política e econômica, o desejo coletivo expressa a vontade por arejamento, renovação e, principalmente, vigor no combate à corrupção. Infelizmente, o ambiente corrupto e corrompido não se limita exclusivamente em Brasília ou à esfera político-partidária. 

Sob a gestão de João Doria e a legislatura dos deputados estaduais também pairam a esperança por novos tempos. Em todo o Brasil, os eleitos para cargos estaduais no Executivo são empossados na mesma data que os da esfera federal, que foi dia 1º de janeiro.

Na avaliação de 90% de executivos e empresários brasileiros, a corrupção e o suborno são práticas corriqueiras para os negócios tupiniquins. No mesmo estudo produzido em 2016 pela companhia internacional de auditoria Ernst & Young, em 62 países, dois entre 10 profissionais de alto escalão no Brasil afirmaram que atos desonestos e ações antiéticas são comuns nas áreas em que atuam. 

Para o especialista em temas de transparência e integridade e consultor sênior da Transparência Internacional no Brasil, Fabiano Angélico esse tipo de comportamento é resultado do “mal exemplo”. “Muitos estudos indicam que é a grande corrupção que estimula a pequena – e não o contrário. Isto é, ao ver grandes casos de corrupção, o cidadão comum e o funcionário público de base (policial de rua, funcionário do Detran etc) praticam a pequena corrupção. É como se diz: o exemplo vem de cima.”

“É a grande corrupção que estimula a pequena”
Fabiano Angélico, consultor da Transparência Internacional

Contudo, o pesquisador afirma que o brasileiro não é um povo complacente com a ilegalidade. Essa leitura positiva do perfil nacional também é esposada pelo pesquisador Instituto Pensando o Brasil e pastor batista, Davi Lago. Ele acrescenta ainda que a participação cristã vem sendo importante na vanguarda de práticas de excelência. “Muitos dos organismos sociais que surgiram nos últimos anos em combate à corrupção nasceram de iniciativas que passaram diretamente pela igreja, por exemplo o Mude, que liderou a coleta de assinatura das 10 Medidas Contra a Corrupção” (veja entrevista com Davi Lago).

Dallagnol é membro da IB Bacacheri (Theo Marques/Estadão)

Em abril passado, o procurador da República e coordenador da Força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol esteve com alguns pastores e líderes batistas do estado de São Paulo para falar sobre combate à corrupção. O encontro aconteceu na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, em Perdizes. Na ocasião, ele ressaltou que lutar por transparência é difícil e requer energia e determinação – isso porque a proposta de Projeto de Lei de iniciativa popular, que chegou a colher mais de 2 milhões de assinaturas, foi desmantelada pelos congressistas. Dallagnol compartilhou da esperança renovada com o novo conjunto de medidas anticorrupção. 

As Novas Medidas contra a Corrupção foram criadas por cerca de 200 especialistas, num processo facilitado pela Fundação Getúlio Vargas e pela Transparência Internacional, tem legitimidade e tem rigor técnico, expõe Fabiano Angélico ao destacar também sua expectativa positiva quanto ao avanço desta nova frente em razão da renovação no Congresso.

“A corrupção é o cupim da República”
Ulysses Guimarães, na promulgação da Constituição

“A combinação de uma nova classe política e uma agenda já colocada pode fazer as propostas caminharem sim. Mas, claro, tudo depende da dinâmica política e da participação e pressão da sociedade”, argumentou. O especialista aponta também a necessidade de prevenção, a partir da transparência e controle social, a liberdade de imprensa e a criação e/ou empoderamento de órgãos fiscalizadores par haver uma postura “anticorrupção robusta”. 

Em todos os cenários, os analistas ressaltam que mudar dá trabalho, nem sempre conta com a compreensão de todos, mas não é impossível nem impraticável. 

Para cristãs e cristãos, a luta por “justiça, paz e alegria” é própria da presença do Reino de Deus. O desafio é combater o “cupim da República” e do coração humano sem se escorar no vazio de ideologias, não importa qual seja sua matiz, pois, por serem concepções humanas, estão fadadas ao fracasso e à corrupção. 

* Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano III / Edição 12).

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