Trabalho, recolocação e iniciativas é capa da BSP 18

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A preocupação a dificuldade de inserção ou recolocação no mercado de trabalho esteve no radar da primeira edição deste ano da Revista Batistas SP (BSP). A capa apresentou o cenário projetado à época para a empregabilidade em 2020 e alistou algumas experiências de empreendedorismo cristão. Para todos os casos, o peso dos valores éticos da vida cristã é fundamental – além de ser considerado um diferencial positivo na perspectiva do empregador. A BSP é o veículo oficial da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP).

Outros conteúdos da BSP18 já foram publicados no site da CBESP, como o que abordou os 50 anos da Rádio Trans Mundial (RTM), o texto com dicas de livros para ler nas férias e outro sobre doação de sangue e plaquetas, os artigos do presidente da CBESP e do diretor executivo do Conselho de Administração e Missões (CAM-CBESP), e outros elaborados pelas organizações batistas do estado paulista. Há ainda artigo escrito pelo capelão da CBESP em presídios que fala de reinserção de ex-presos. Todas as edições da BSP estão disponíveis gratuitamente para download aqui.

Hora de voltar ao trabalho*

Por Chico Junior

Nos últimos anos, as filas para concorrer a vagas de trabalho vêm acumulando grande número de interessados (Fotos: Adobe Stock)

A prometida retomada no crescimento de vagas de emprego ainda não acelerou. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho,  em 12 meses – contando de outubro de 2018 ao mesmo mês do ano passado, o saldo de novas frentes foi de 605.919. Uma gotícula no deserto de mais de 12 milhões de desempregados no País. Especialistas ouvidos pela Batistas SP estimam que a melhora seja lenta e gradual, e comece a apresentar sinais nos primeiros meses de 2020. A expectativa nasce em razão de esboços de reações na economia nacional e externa. Entender como esses cenários local e geral se comportarão, qual a maneira mais benéfica de aproveitar mudanças positivas e de que modo se preparar para disputar colocação ou recolocação no mercado, ou despontar no empreendedorismo, é façanha que exigirá atenção e dedicação. Esta reportagem trata do tema empregabilidade no prisma desse novo momento e de uma circunstância de transição marcada pela chamada 4ª Revolução Industrial (ou Indústria 4.0), a migração da era das máquinas para a inovação da tecnologia digital.

De acordo com projeção da agência de classificação de risco internacional Standard & Poor, a soma de bens e serviços produzidos no Brasil, denominado de Produto Interno Bruto (PIB), deve ter resultado positivo de apenas 1% para o acumulado de 2019. E, neste novo ano, a evolução estimada é de 2%. Tais índices implicam no famoso “tá ruim, mas tá bom”. Ruim por indicar que, nesta toada, o Brasil levará cerca de 50 anos para dobrar sua produtividade doméstica. Isso se não passar agruras internas ou decorrentes do cenário internacional. E, convenha-se, em cinco décadas, é um feito certamente impossível. Em contrapartida, a parte feliz da história é que uma ligeira alta dessas acarreta retorno de investimentos, financiamentos, mexe com a mente e o bolso do empresariado nacional e, daí, movimenta o estoque de mão de obra, no qual hoje estão à espera milhões de brasileiros e brasileiras há anos ou meses, caso da secretária executiva Rosângela de Jesus da Silva.

Com mais de 20 anos de carreira e formada em automação de escritórios, Rosângela havia sido dispensada do trabalho após uma viagem ao Exterior para aperfeiçoar a fluência no inglês. “Nunca é agradável receber uma notícia dessa, mas acredito que foi no melhor momento. Eu estava há 30 dias afastada do meu ambiente de trabalho, e talvez o choque tenha sido amenizado de alguma forma por essa razão”, contou ao dizer que logo em seguida priorizou assuntos pessoais e, depois, passou a fazer planos para a reinserção profissional. A fé em Cristo e a experiência vivida em outra nação lhe trouxeram coragem e conhecimento para tomar a decisão de sair do País – e isso já inclui a ideia de participar de alguma igreja local. 

A consciência da necessidade de qualificação continuada é a raiz desse tipo de perspectiva com ares de otimismo, como argumenta o diretor da regional paulista da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), Luiz Drouet. “Trabalhar a ampliação desse autoconhecimento, saber quais são as atividades que gosta ou não, aquelas que lhe fazem bem ou não. Isso para ele (profissional) fazer escolhas que favoreçam a progressão da carreira dele em função dessas afinidades, preferências e competências”, declarou acerca de como se preparar para vagas de emprego que possam surgir. 

Construção é um dos primeiros mercados a reagir (Canva)

Drouet estende a análise reconhecendo que o atual cenário de crise por vez obriga as pessoas a buscarem atividades desinteressantes a elas ou não condizentes com projetos para a profissão. Contudo, o especialista alerta que situações diferentes podem gerar oportunidades. Algumas aberturas vêm no próprio ambiente de trabalho. Outras estão além dele. Essas portas são as mais esperadas por empreendedores, caso dos empresários Fabrízio Carvalho Silva (39) e Eli Roberto Nunes Teixeira (48). 

Graduado em Direito e em Administração, Fabrízio atua no setor de cosméticos na empresa nacional Yavoi. Ele conta que se motivou a empreender pelo desejo de causar impacto positivo na vida das pessoas, para contribuir com solução de problemas comuns do dia a dia, e, claro, conquistar a independência financeira, de liberdade de tempo.

Pastor batista e diretor da Pleroma Energia, Eli diz que o impulsionamento ao empreendedorismo surgiu em parte da necessidade de prover à família, e em parte da vocação para relacionamentos. “Comecei a empreender por causa da responsabilidade de sustentar a família, mesmo sem formação profissional e idade.” O quesito etário é um fator preponderante na vida do empreendedor, cuja característica no Brasil é de jovens. Pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que um entre cada três empresários pensou em começar algo antes de atingir os 18. Entre empresários com até 24 anos, 80% já cogitava essa ideia sem sequer chegar à maioridade. Esse é um dos grupos que vêm sendo mais pressionados pela desocupação. 

Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a pedido da Batistas SP, o número de jovens de 18 a 24 anos e de adultos de 40 a 59 anos fora do mercado de trabalho dobrou no comparativo entre o primeiro trimestre de 2012 e o mesmo período do ano passado. O salto foi de 561 mil para 1,047 milhão de desempregados no segmento da juventude, e entre a faixa madura, partiu de 331 mil para 692 mil. Com quadros extremante enxutos, crer que 2020 haverá chamada para ampliar a força de trabalho reduzida ao longo dos últimos anos é algo dado como certo, afirma Michelle Karine, presidente da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem). Entre os motivos, ela indica a contratação de trabalhadores temporários que vem crescendo de “forma considerável”, a sazonalidade, que naturalmente puxa o índice para cima, e as mudanças nas regras de temporários adotadas no ano passado. Esse movimento de vagas de curto prazo é visto, por exemplo, nos shoppings. De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), o setor gerou em 2018 mais de 1 milhão de vagas diretas, crescimento de 5,4% em relação ao ano anterior. 

Seja para dar início a um negócio próprio ou seguir carreira a fim de sair da fila e também olhar mais à frente, para 5 ou 10 anos adiante, a ABRH-SP recomenda entender e acompanhar o que acontece na Indústria 4.0, como a área de Tecnologia da Informação (TI). Dica também apontada por Bianca Machado, gerente sênior da Catho, site de classificados de empregos. “As tendências e necessidades de mercado requerem que posições de todos os subsistemas de TI estejam em ascensão. Para esse e próximos anos, oportunidades nos setores de Projetos, Business Intelligence, Inteligência Artificial, Programação/Desenvolvimento, UX/UI e Segurança da Informação, prometem um destaque especial”, antecipou ao mencionar resultados do estudo “Mapa do Emprego da Catho, o qual revela percentual de crescimento da área de TI de 5% para a Região Sudeste. 

Profissionais precisam se especializar cada vez mais (Canva)

Superintendente Nacional de Operações do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), Marcelo Gallo reforça, em especial aos mais novos, sobre a importância de estar sintonizado com o sumiço de algumas atividades repetitivas, que deverão ser substituídas por programas ou máquinas em breve, e os empregos do futuro. “A melhor maneira de continuar ativo no mercado de trabalho é estar sempre se qualificando, aprimorando suas habilidades de relacionamento humano, atualmente denominadas como soft skills e estar atento às novas tecnologias, pois da mesma forma que elas diminuem as vagas em alguns segmentos, criam novas possibilidades de trabalho. Hoje já temos profissionais que até pouco tempo atrás não existiam, como cientista de dados.” 

Um elemento considerado significativo no mercado de negócios pelos especialistas entrevistados a colaborar com grupos que adotam altos valores éticos e morais, nos quais estão inseridos os cristãos. “Os princípios éticos ganham cada vez mais relevância, eles sempre foram importantes e ganham a cada dia um espaço maior”, avaliou o economista e membro do Conselho Federal de Economia Carlos Eduardo Oliveira Jr. Drouet acompanha a análise destacando que esses agrupamentos “tendem a se valorizar no mercado”. 

“É óbvio que como a gente viu uma profunda participação da corrupção na economia brasileira, em setores como o da construção civil e outros mercados que foram impactados diretamente pela corrupção, a gente tende a imaginar que profissionais com valores morais  e éticos possam ser prejudicados por não compactuarem com esse tipo de atividade. Porém, nunca no Brasil tivemos um combate à corrupção tão sério. Isso faz com que profissionais com essa característica tendam a se valorizar continuamente no mercado”, acrescentou. 

Valores cristãos atraem contratantes (Fotos: Adobe Stock)

Na ótica dos empreendedores ouvidos, um empresário cristão passa pelas mesmas dificuldades sofridas por um empreendedor honesto. “O maior desafio em ser um empresário cristão é fazer o certo de forma certa, é muito comum no meio empresarial encontrarmos empreendedores cristãos de sucesso, porém com uma reputação e condutas que não condizem com seus princípios e valores cristãos”, afirmou Fabrízio. Já Eli falou do risco dos “atalhos”, os quais não levam ao senso de realização que todo empreendedor busca. “Sucesso sem honestidade, na verdade, é fracasso”, declarou ao considerar a “espiritualização empresarial” um caminho complicado. “Vejo em negócios com nomes bíblicos tipo ‘Casa de Carnes El Shaday’, uma forma de ‘atrair a atenção’ de Deus e da cristandade contemporânea pra ganhar um diferencial sobrenatural de sucesso. Deus ajuda quem estuda, se prepara, se esforça, ora e se consagra a Ele em tudo que faz, inclusive nos negócios.” 

Seguros, contudo, os dois empresários revelaram não desejar mais voltar a serem empregados. Eles confirmam o levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A pesquisa aponta que quase 60% da classe jamais trocariam a atividade em que atuam por um emprego formal. 

A pedido da reportagem, entrevistados e especialistas pinçaram algumas dicas e sugestões para quem almeja empreender, ampliar o leque profissional, se dedicar à carreira ou encarar empregos inovadores do século 21. 

Para a ameaça da rotatividade no trabalho, o vice-presidente da Asserttem, Marcos de Abreu, diz que a tendência das relações de emprego é de ser cada vez mais de curto prazo. O lance, complementa a líder dele, Michelle, é o profissional entender as próprias habilidades e demonstrar disponibilidade e engajamento. O economista alerta que ciclo emprego-desemprego prejudica a especialização do trabalhador.

Além de empoderar com qualificação o currículo (preparar-se para elaborar o  currículo, cuidar do design dele, descrever a trajetória profissional, e revisar tudo com cuidado), a gerente sênior da Catho, Bianca, dá outras cinco dicas, sendo: se identificar com a cultura da empresa, ser proativos, fazer autogestão do conhecimento, saber trabalhar em equipe, e ter domínio de novas tecnologias. Uma postura de atitude também esteve inserida no destaque feito por Drouet, da ABRH-SP. “Quando olhamos para as habilidades do futuro que foram projetadas pelo Fórum Econômico Mundial, observamos que 100% delas estão relacionadas a aspectos mais comportamentais e atitudinais”, disse. 

Para quem vai entrar no mercado, como estagiário, aprendiz ou primeiro emprego, e está, obviamente, sem experiência de trabalho ainda, Marcelo Gallo, do CIEE, instrui a valorizar outras habilidades pessoais. “As competências socioemocionais são e sempre serão importantes ao longo da carreira. Saber trabalhar em equipe, ter boa comunicação, ética, exercitar a criatividade, entender a importância do estudo na sua formação, entre outras características, ajudam no momento do processo seletivo. 

Para todos e todas que começam este ano na expectativa de encontrar uma vaga, de receber resposta positiva daquela entrevista, ou de iniciar algo inovador, a Batistas SP deseja que haja êxito e resulte em louvor a Deus.

* Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano IV / Edição 18).

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