Abrindo a série de reportagens “Doar é Amar” da Revista Batistas SP (BSP), a edição janeiro-fevereiro incentiva o povo batista à doação periódica de sangue. Épocas do ano como esta registram baixas nos estoques, aponta a jornalista Edna Geraldo, colaboradora da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP).
Série vai trazer ao longo do ano temas relacionados
a doação a fim de promover a generosidade cristã
Além deste texto, a BSP18 apresentou conteúdos como os 50 anos da Rádio Trans Mundial (RTM), sugestões de livros para ler nas férias, artigos do presidente da CBESP e do diretor executivo do Conselho de Administração e Missões (CAM-CBESP), e outros elaborados pelas organizações batistas do estado paulista. Já a capa da primeira edição de 2020 da BSP fala sobre a perspectiva profissional e de empreendedorismo cristãos. Todas as edições da BSP estão disponíveis gratuitamente para download aqui.
Doação nas veias*
Reportagem de Edna Geraldo
“Uma bolsa de sangue não escolhe a quem ajuda”, declarou o agente penitenciário Cezar Francisco Rodrigues (45) sobre a importância da doação. Ele é doador há 25 anos. Junto com a esposa, a professora Elizabeth Rodrigues (40), repete a prática a cada quatro meses. Ambos são membros da PIB de Garça, no interior paulista. “Quando olhamos para Cristo, nos sentimos, como cristãos, no dever de fazer doação de sangue sempre que possível, pois Ele é nosso maior incentivo, o exemplo a ser seguido”, disse Elizabeth.
Esta é a primeira de seis reportagens da série “Doar é amar“, que abordará as diversas formas de doações e como igrejas e cristãos podem agir com solidariedade.
Com campanhas periódicas para regular os estoques, o Banco de Sangue de São Paulo (BSSP) trabalha durante o ano todo para atender hospitais conveniados. “Não existe substituto para o sangue, e muitos pacientes precisam dele para viver”, afirmou a coordenadora da captação de doadores do BSSP, Sandra de Paula. Ela disse que é feita procura ativa através de WhatsApp, telefone, e-mail e mensagens para doadores cadastrados. “Principalmente nos períodos críticos, ou seja, em época de festas, férias e inverno, quando aumenta em muito a necessidade de captação de sangue”, comentou acerca de períodos como Natal, Réveillon, Carnaval e feriados prolongados.
No Brasil, doações de sangue dividem-se em duas categorias: voluntária e vinculada, ou de reposição. A voluntária é aquela em que o indivíduo doa altruística e solidariamente, sem saber a quem se destina. Feita para repor volume utilizado em tratamento, a vinculada é feita em nome de algum paciente. Segundo levantamento feito pela Fundação Pró-Sangue a pedido da reportagem, as coletas são bem menores do que as necessidades dos hospitais, uma vez que os brasileiros não têm hábito da doação frequente. Essa lacuna atinge quem necessita de transfusões constantemente.
“Tive câncer de estômago há 17 anos, e foi retirada grande parte desse órgão e do intestino, e por conta dessa cirurgia, por várias vezes foi necessário que recebesse sangue. Depois da cirurgia, por muitas vezes precisei ser internada para receber novamente”, contou a aposentada Suely Guimarães (53), que há 8 anos, passou por outra cirurgia, e, devido a sangramento intenso, necessitou de várias transfusões. “O sangue que recebi salvou a minha vida, me deu condições de estar aqui, viva, 17 anos depois da primeira cirurgia.”
Outro prejuízo às doações vem de um erro religioso de textos do Antigo Testamento, como explica o teólogo e professor Luiz Sayão. “Essa ideia errônea parte do conceito inadequado de que a vida está no sangue, ou que a alma está no sangue. Contudo, essa concepção não faz sentido, pois se assim fosse, alguém que sofre um corte e perde sangue pelo caminho teria, também, sua alma ‘perdida’ pelo caminho”, explica o pastor da Igreja Batista Nações Unidas, capital paulista, sobre a interpretação falha de textos como Levítico 7.26 e 17.14.
Ministro auxiliar da Igreja Batista Boas Novas (Capital), pastor Alípio Coutinho também aponta a “diferença entre comer sangue e receber uma transfusão”. “A doação é um ato de amor ao próximo, portanto, um ato que se harmoniza com a ética bíblica, que nos ensina a amar ao próximo com amor sacrificial. Dar a vida em favor dos que precisam é incentivado, quanto mais uma simples doação de sangue, capaz de aliviar a dor dos que sofrem enfermidades graves.”
Segundo o Pró-Sangue, cada bolsa coletada pode ser fracionada em plasma, glóbulos vermelhos, crioprecipitado e plaquetas (estes dois têm função de parar sangramentos através da coagulação). Há técnica que permite doar somente plaquetas, por meio de centrifugação. A doação de plaquetas beneficia diversos pacientes, especialmente quem está em tratamento para leucemias e outros tipos de câncer, pessoas submetidas a transplante de medula óssea, cirurgias cardíacas, as vítimas de traumas físicos, dentre outros. No corpo do doador, a reposição das plaquetas pelo organismo é rápida e ocorre em torno de 48 horas.
Outro fator que por vezes afasta as pessoas dos postos de coleta de sangue são os tabus, como risco de contaminação. “Doar sangue não engorda nem emagrece o doador, e também não há nenhum risco se a coleta for realizada em um ponto de coleta especializado. Além disso, sempre que o sangue coletado apresentar problemas, o doador é convidado a comparecer ao local de coleta para realizar novos exames”, argumentou o clínico geral Ahmad Hamzé.
O médico complementou indicando alguns impedimentos temporários para a doação de sangue, como resfriado, gravidez, tatuagem feita há menos de um ano. Há, porém, impedimentos definitivos, ou seja, aqueles que impossibilitam aproveitar o material coletado, como se o doador é usuário de drogas ilícitas injetáveis, se teve hepatite após os 11 anos de idade, ou se há evidências clínicas de doenças transmissíveis pelo sangue, como DST/AIDS.
Neste cenário, o público cristão tende a oferecer maior e melhor condição geral de aproveitamento nas coletas sanguíneas. Isso porque, ao seguir os princípios expostos nas Escrituras Sagradas, homens e mulheres caminham em santidade e, assim, distantes de vícios e de relacionamentos extraconjugais. “Doar sangue é a maneira mais direta e simples de ajudar alguém”, afirma o casal Cezar e Elizabeth Rodrigues.
* Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano IV / Edição 18).