O ambiente proporcionado pela internet é mais um espaço para que a igreja acesse e leve a mensagem transformadora do Evangelho. É exatamente essa a reflexão trazida pela reportagem de capa da edição 17 da Revista Batistas SP (BSP), cuja manchete foi “Igreja: uma influenciadora digital”. O texto principal é acompanhado por mais dois artigos especiais. Chamados de “hiperlinks”, eles serão publicados, respectivamente, na quarta (12) e na sexta-feira (14) desta semana.
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A publicação novembro-dezembro da BSP traz ainda outros conteúdos – a maioria já veiculada pelo site da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP). Já a BSP18 apresenta a reportagem sobre doação, dicas de livros para ler nas férias, textos especiais sobre os 50 anos da Rádio Trans Mundial, artigo do capelão do Ministério em Presídios sobre reinserção de ex-detentos no mercado de trabalho, escritos das organizações batistas ligadas à CBESP, e outros conteúdos. A Batistas SP é a publicação oficial da CBESP. Para lê-las, clique aqui e tenha acesso gratuito a essa e a edições anteriores.
Ide por todo o mundo digital*
Por Chico Junior
Criada há cerca de 40 anos, a rede mundial de computadores (internet) é um universo. Literalmente. Segundo a empresa de pesquisa eMarketer, mais da metade dos terrestres navega entre os quase 2 bilhões de sites registrados – outra estimativa menciona a existência de 4 bilhões de endereços ativos. Só o Facebook acumula hoje 2,3 bilhões de usuários. Se for citar volume, o aplicativo WhatsApp, chamado pelos brasileiros de “zap zap”, soma sozinho 1 bilhão de conectados diariamente.
Um estudo da EMC, companhia de armazenamento de dados digitais, prevê que até o próximo ano cada ser humano gere 1,7 megabyte (MB) por segundo. Mais informação do que o suportado nesse disquete abaixo, com capacidade de 1,44 MB – nota para os nativos digitais: isso aí era o “pendrive” até o final do século passado. É nesse ambiente intenso que a sociedade e as igrejas estão vivendo e convivendo.
Especialista em tecnologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pollyana Notargiacomo ressalta que o mundo digital é mais um canal para se usar com os fiéis. “A religiosidade apenas possui mais um veículo, distinto dos anteriores, de comunicação, sendo que pode tornar o contato mais ágil e, até, muitas vezes mais próximo.” Ao destacar que a tecnologia não é boa nem má, e depende da atribuição, ela cita o uso do celular. Inadequado, por exemplo, num jantar em que pessoas deixam de conversar e aproveitar a presença física dos demais para ficarem numa “bolha tecnológica mediada pelo dispositivo”.
Esse acesso fácil à mão é uma ameaça também ao cérebro, aponta a psicóloga clínica Sylvia van Enck Meira. Coordenadora do Programa de Atendimento aos Pais e Familiares de Dependentes de Tecnologia do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, ela comenta que esse bombardeio de informações pode desencadear stress físico e emocional. “Devemos considerar também que pessoas ‘multitarefas’ não conseguem bom rendimento no trabalho e/ou estudo, pois não absorvem os diferentes conteúdos com propriedade, consequentemente não os memorizam e com isso as informações não se transformam em conhecimento adquirido”, afirmou ao falar ainda do prejuízo à memória provocado pelo “dar um Google” no lugar do exercício mental.
A psicóloga também ressaltou o risco de isolamento “bastante comum” quando grupos virtuais não se relacionam presencialmente. “Na medida em que os usuários da tecnologia se acomodam a este padrão de interação social, a tendência é o isolamento social, a dificuldade em travar conversas não virtuais, face a face, podendo em algum grau desencadear um quadro de fobia social, ansiedade e sentimento de menos valia.”
Esse cenário catastrófico é alimento para os “apocalípticos”, como chama Umberto Eco aos temerosos quanto à tecnologia. Já na outra vertente, os nomeados por ele de “integrados” encontram matéria-prima.
Pós-doutorado em Sociologia pela Sorbonne e doutor em Comunicação pela USP, Massimo Di Felice argumenta que “não tem âmbito da nossa realidade que não esteja sendo alterado” por essa conectividade digital – a religiosidade e a individualidade são alguns desses aspectos atingidos. “Isso significa que nós não somos mais apenas sujeitos, indivíduos, biológicos e jurídicos, mas também pessoa digital, que compreende o conjunto de dados presentes ‘on-line’ sobre nós. Somos também dados em rede. A nossa esfera religiosa, se quer abranger a totalidade do nosso ser, deve, inevitavelmente, se estender também aos dados.”
O olhar para essa necessidade de participação no mundo digital impulsionou as experiências de algumas igrejas locais. Para a Igreja Batista Memorial de Alphaville (IBM Alpha), a tecnologia é vista como um presente que Deus concedeu ao homem para expandir Seu amor e estreitar Seu relacionamento, declara o pastor Sidney Costa, titular da igreja localizada no município de Barueri, na Grande São Paulo. Na prática ministerial, os recursos servem de pontes para aproximação.
“Muitas pessoas têm sido tocadas mesmo a distância, e temos aproximado muito a relação com a nossa comunidade através da tecnologia. A IBM Alphaville utiliza a tecnologia como um posicionamento contemporâneo para acompanhar as transformações culturais de cada geração. Os meios digitais são essenciais para buscar uma relação e alcançar as gerações atuais (X, Y, Z, Millenials, etc).”
O desenvolvimento em multimídia também foi uma das prioridades na Igreja Batista Boas Novas (IBBN), no bairro de Vila Zelina, capital de São Paulo, que vai receber a 112ª Assembleia da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), em 2020. Lá, existe um estúdio de pós-produção com trabalho praticamente diário e uma equipe de cerca de 80 pessoas. Os voluntários recebem capacitação e atualização frequentemente, conta o diretor técnico da IBBN, Márcio Rozzi.
“Temos visto que o internauta cristão é exigente também naquilo que vai receber, seja ao que assiste, quanto ao que ouve. Percebemos isso a partir da grande quantidade de comentários postados na internet. Em nossos cultos, temos recebido pessoas que, quando sabem de nossa infraestrutura e qualidade empenhadas através dos nossos meios de comunicação, deixam o status de virtuais e passam a ser participantes presentes.”
Esse poder de atração também acontece pelas ferramentas de buscas e em igrejas menores. As fotos do ministério infantil da Igreja Batista da Lapa, na zona oeste paulistana, disponíveis na internet motivaram o casal Sérgio Malzato e Aparecida Santana a levar o filho de 5 anos. Frequentantes há 5 meses, participam de atividades na igreja e pretendem se batizar em breve.
“Uma igreja que tenha qualquer endereço na internet, como site, perfil no Facebook e no Instagram, ou canal no YouTube, já é uma influenciadora digital”, disse o pastor Reinaldo Junior, plantador da Igreja Batista Vinte e Um (i21) e participante do Projeto Josué, iniciativa da CBESP para abençoar pastores de igrejas menores. Ele enfatiza que a i21 é uma igreja contemporânea e, por isso, vê seu papel no mundo digital como importante. “Buscamos influenciar com beleza estética e conteúdo relevante”, afirmou.
Esse zelo cristão é essencial diante dos dilemas éticos e morais que circundam a vida on-line, como sinaliza o professor Lourenço Stelio Rega, eticista e diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo. “Por um lado facilitam a vida, mas também geram alteração de comportamento. Por exemplo, envio de mensagem a respeito de um comentário sobre alguém que recebemos e que pode desabonar essa pessoa. O mundo digital democratiza o acesso à informação e a pessoa pode se sentir no direito de divulgar difamação, ‘fake news’ etc.”
Essa postura mostra que igrejas menores também podem ser “high-tech”. Na ótica do pastor Sidney, da IBM Alpha, isso pode ser feito sem grandes impactos no orçamento. “A igreja precisa ser vista e entendo que esse é o grande papel da tecnologia e internet nos dias de hoje nas igrejas pelo mundo. Atualmente é muito simples de se criar os perfis nas redes sociais e divulgar este meio de comunicação, sem necessidade de investimentos adicionais”, reforçou ao recomendar a constituição de uma equipe de comunicação eficiente e alertar para o cuidado especial com as mensagens levadas à comunidade.
Entre esses afrouxamentos, há outra ameaça, como os crimes digitais. Segundo empresa especializada, o Brasil foi alvo de mais de 15 bilhões de ataques hackers em três meses de 2019. Outra preocupação é o grau de vulnerabilidade a que o País está exposto. De acordo com a empresa McAfee, especializada em segurança digital, o risco brasileiro de sucumbir a ataques cibernéticos é mediano. Pesquisa da consultoria estadunidense EY de 2016 aponta que mais de 60% das companhias nacionais não dispõem de programas antiameaças virtuais.
O preparo tecnológico precisa ser pauta também das famílias. No dia a dia do professor Valseni Braga, engenheiro eletrônico e diretor-geral da Rede Batista de Educação em Minas Gerais, a chegada de drones autônomos, carros sem motorista, nano-tecnologia, “cryptomoedas”, são itens a serem necessariamente explorados pela educação do futuro. Na dinâmica do Colégio Batista Mineiro, o currículo já considera aulas de robótica.
Para o ministério pastoral, repensar o estilo de pregação é tema bastante significativo, avalia o pastor Daniel Ventura, diretor executivo da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, que tem no currículo passagem no ramo de tecnologia e telecomunicações e capacitação em marketing digital e inteligência artificial. “Muitos púlpitos, hoje, possuem dois auditórios: o físico, real, e o digital, virtual. Ovelhas, com apenas alguns cliques, conseguem, sem sair de casa, saciar seus apetites por uma boa comida espiritual. A homilética moderna, inclusive, ressignificou alguns aspectos da pregação, em especial, o tempo de duração das preleções. Recomendo, fortemente, um estudo mais aprimorado sobre o assunto.”
* Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano III / Edição 17).