O olhar atento e teologicamente reflexivo sobre o meio ambiente e a participação da humanidade, e, mais especificamente, da Igreja de Cristo, estão no cerne da edição março-abril da Revista Batistas SP (BSP).
A temática teve tal destaque diante de datas importantes no calendário global, como o Dia Mundial da Água (22/3) e o Dia Internacional da Terra (22/4), lembrado hoje. O assunto é um dos temas vitais para a atenção do povo cristão, pois os recursos naturais são finitos e integram a mordomia cristã. A arte da capa mostra a importância da água na fé batista.
Excepcionalmente, a BSP19 está disponível apenas na versão digital
Publicação oficial da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), a BSP19 trouxe homenagem a missionárias pelo Mês das Mulheres, a segunda reportagem da série “Doar é Amar”, e artigos das organizações batistas do estado paulista. O lançamento extemporâneo permitiu abordar o tema da pandemia em uma das colunas. Clique aqui e tenha acesso a essa e a edições anteriores.
econômicos, por sua vez, abre brechas à agressão ambiental. Assim, verdadeiro é o dizer africano: Em briga de elefantes, quem sofre é a grama. Nesse cenário geopolítico, os mais pobres pagam caro, como mostra Frederick Dharshie Wissah. Na imagem premiada que capturou em 2019, o fotógrafo traduz a agonia e o drama do pecado estrutural em Kakamega, Quênia. A postura cristã pessoal e comunitária de refletir teologicamente e de adotar atitude bíblica perante a criação precisa vir a se tornar o santo fiel da balança entre política e meio ambiente. No bimestre do Dia Mundial da Água, data lembrada em 22/3, e do Dia da Terra, em 22/4, a Revista Batistas SP oferece contribuições a medidas ecológicas individuais e coletivas.
Para desconforto dos ecologicamente preocupados, o batismo – um dos rituais mais ricos para a ala cristã – geralmente é seguido de desperdício de água. Ao recomendar melhor uso, a engenheira ambiental Hellen Carine Nascimento sugere reduzir o volume dos batistérios e o reaproveitamento na limpeza. “Não apenas em meio religioso a água é desperdiçada, mas em casa também. Vejo muitas pessoas lavando o quintal apenas com mangueira, sendo que o que limpa é a vassoura.”
Apesar de grande volume de água no mundo, transformar água salgada em potável é um desafio a ser superado. “Novas técnicas também estão sendo criadas e testadas no Brasil como o processo por membrana cerâmica”, relatou a bióloga Ludmila Lopes Borges de Castro sobre o custo-benefício. A especialista em estudos ambientais lembrou ainda que o estilo de vida desordenado da sociedade já afetou ecossistemas, desde mudanças climáticas a extinção de espécies.
Um ataque silencioso acontece sobre as regiões de matas. O Brasil foi o país que mais perdeu árvores em 2018, alerta o levantamento Global Forest Watch, iniciativa da World Resources Institute (WRI), instituição de pesquisa presente em mais de 50 nações. Foi desmatada uma área equivalente ao tamanho de 1,3 milhão de campos de futebol. Em menor escala, construções e ampliações irregulares e sem acompanhamento de profissional qualificado veem nas árvores um problema para o projeto arquitetônico.
Troque as lâmpadas e economize energia
Já a qualidade do ar é artigo de divisão. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) alega que a concentração de poluentes caiu perto da metade em uma década. Estudiosos rebatem dizendo que a medição está fora dos padrões atuais da Organização Mundial de Saúde. Fato é que o ar é impactado pelos milhões de veículos que circulam diariamente na capital paulista. Os automóveis representam maioria da frota, algo perto de 9 milhões, que, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), empresa que monitora o trânsito paulistano, chegam a estar num total de 80% nos congestionamentos.
Na relação individual com o meio ambiente, os moradores da Grande São Paulo produzem 27 mil toneladas de lixo por dia. Só a capital responde por 75%. Um terço disso (35%) deveria ser destinado à coleta seletiva, indica a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), de São Paulo.
Para orientar e conscientizar a população, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) e a Rede Clima criaram em 2012, na Conferência Rio+, o site e a cartilha “Pegada Ecológica”. A ferramenta virtual mostra como hábitos particulares ou institucionais consomem recursos e afetam o meio ambiente. “Mapeando as diversas ações que interferem no meio, há possibilidade de reduzir os impactos relativos. Por exemplo, se uma determinada instituição tem um consumo de energia elevado, ou de água, ou um consumo inadequado de alimentos, a pegada ecológica pode identificar os pontos a serem trabalhados, reduzir o impacto da instituição, e de seus funcionários, nesses aspectos. Penso em até ser um elemento importante à imagem e ao mercado da empresa”, respondeu à reportagem o doutor Jean Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e Coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST/INPE). Ele recomenda como primeiro passo fazer um levantamento da “pegada ecológica” – uma dica válida tanto para pessoas quanto igrejas.
Para Ester, os pastores têm papel essencial diante da necessidade de uma “ecoteologia” protestante no País e para a responsabilidade cristã de “cuidar do Jardim”. Assim, a agenda ambiental pessoal e comunitária precisa incluir a conscientização da “pegada ecológica”. Essa medida, junto com a adoção da prática dos 3Rs (reuso, reutilização e reciclagem), e o descarte adequado são fundamentais para o meio ambiente e para o testemunho cristão à sociedade. “O consumo em si não é o problema, o ‘xis da questão’ aparece quando consumimos de maneira desordenada e sem necessidade, interferindo no equilíbrio do planeta”, aponta Ludmila. As mudanças são efetivas e requerem, por vezes, pequenas alterações nas rotinas, sinalizam os entrevistados ouvidos pela reportagem da Batistas SP.
*Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano IV / Edição 19).