Marca peculiar da denominação batista ao redor do mundo, e, também no Brasil, a cooperação demonstra a essência do viver e do ser povo batista desde os primórdios denominacionais – princípio, aliás, extraído das páginas neotestamentárias das Escrituras Sagradas.
Esse valor recebeu o devido espaço na edição 15 da Revista Batistas SP (BSP) e é reproduzido como antecipação ao aniversário de 148 anos dos batistas no Brasil, data que será lembrada nesta terça (10) a partir do início do trabalho denominacional no município de Santa Barbara d’Oeste, interior paulista.
Anúncio do Evangelho pelos batistas no Brasil completa 148 anos nesta terça-feira, 10
Publicação bimestral da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBEPS), a BSP teve compartilhamento com a área de Missões Estaduais (encarte está disponível para download no hotsite da Campanha de Missões Estaduais 2019). A 15ª edição e outras estão acessíveis gratuitamente aqui.
Cooperar e viver*
Por Chico Junior
Diretor do programa de Dinâmica da Evolução na Universidade de Harvard (EUA), o biólogo Martin Andreas Nowak aponta em um de seus artigos científicos que a cooperação é algo necessário para que sejam construídos novos níveis de organização no mundo natural. Foi justamente a condição de coesão de uma comunidade social ao longo da história humana que permitiu à raça sobreviver, superar dificuldades e catástrofes, e, daí, progredir, argumenta o estudioso. Assim, a mutualidade foi e permanece fundamental para o avanço da vida na Terra.
A percepção é semelhante para a dinâmica da igreja e da vida cristã, sinalizam as falas de ministros batistas ouvidos pela reportagem da Revista Batistas SP. Na perspectiva dos entrevistados, a essência denominacional requer a cooperação, tanto em razão dos desafios missionários – locais, nacionais e globais – quanto à importância da gestão organizacional.
“As igrejas caminham muito rápido para voos solos, infelizmente. Mas muito do trabalho do Reino é em conjunto e requer investimento que a maioria das igrejas não consegue sustentar”, disse o pastor Sidney Roberto Machado da Silva, ministro há 23 anos na Igreja Batista do Marapé, em Santos.
Relator do Grupo de Trabalho do Conselho Geral da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP) que estuda o Plano Cooperativo, pastor Genilson Vaz ressaltou que cooperação envolve diversas formas, entre elas, a financeira, sendo apenas uma das maneiras. O ministro da Primeira Igreja Batista de Ribeirão Preto (interior paulista) destacou ainda o “histórico de fidelidade” da igreja em “todas as áreas de atuação”. “A gente investe naquilo em que acredita. Por certo, as lideranças, quer sejam pastores ou líderes em suas igrejas, sabem da valiosa atuação da CBESP em todo o nosso estado, bem como para além das nossas fronteiras geográficas. Creio que a pessoa-chave para esta conscientização será sempre o pastor, mas ele precisa acreditar, vestir a camisa do princípio de cooperação”, afirmou. Ambos os pastores enfatizaram a participação denominacional longeva das respectivas igrejas.
Porém, nem todas as trajetórias ministeriais e eclesiásticas demonstram essa proximidade. Atuando para o resgate da cooperação, o pastor William Quintela levou anos para conscientizar a Igreja Batista no Jardim Bela Vista, em Bauru, vê-la voltar a contribuir financeiramente. “Quando um posicionamento se consolida através dos anos acaba virando parte da cultura local. Foi o que aconteceu conosco, por isso o trabalho de conscientização necessita de dois elementos: respaldo e perseverança. Estar respaldado pela verdade e testemunho comprovado sobre o que se propõe diante de um grupo é imprescindível para a mudança de posicionamento do mesmo. No nosso caso, cremos que o trabalho desempenhado pelo pastor Adilson [Santos, diretor executivo do Conselho de Administração e Missões] e pelos demais irmãos da diretoria da CBESP é sério e honesto. Com perseverança, consegui levar a igreja a perceber a necessidade de participação do plano cooperativo e a seriedade da gestão atual.”
Somando aos demais ministros, o pastor Régis Claro, titular da Primeira Igreja Batista em Parque Jurema, em Guarulhos, Grande São Paulo, declarou que a identidade denominacional é um dos vínculos a fortalecer esse elemento cooperativo. “Cada vez mais é necessário conhecer, valorizar e ensinar aos membros de nossas igrejas as nossas raízes batistas que, via de regra, têm em seu solo os compromissos com a propagação do Evangelho, com o trabalho missionário e com o trabalho de cooperação entre as igrejas batistas, da qual as igrejas existentes, novas ou antigas, são devedoras.”
Pastor Régis salientou que esse elo denominacional traz alegria aos membros por pertencerem a “identidade batista revelada em nossa história”. Por outro lado, os quatro pastores observam que o comportamento individualista das igrejas, decepções institucionais, crises financeiras e desalinhamento denominacional na formação acadêmica são itens que prejudicaram e ainda atrapalham a aproximação convencional de pastores e membresias, bem como a participação cooperativa. “Hoje, não apenas os pastores, mas muitos membros questionam todo tipo de verba, de saída. Vejo isso como algo saudável. Portanto, cabe à instituição cada vez mais transparência e lisura”, disse o pastor Sidney.
Mutualidade ajuda
a humanidade a evoluir
“Quando nos identificamos, lutamos para ingressar, permanecer e prevalecer. Abrimos mão do individualismo, do conforto e nos dispomos a pagar o preço, afinal de contas é o que somos: batistas”, disse pastor William sobre os pilares da denominação. Pastor Genilson trouxe argumento parecido ao destacar a veia missionária. “Os que trouxeram o evangelho até aqui o fizeram por amor aos perdidos, e por acreditarem na Grande Comissão. Toda a história dos batistas no Brasil e no mundo reflete esta verdade. Por certo que reforçar e relembrar nossos princípios e valores levarão as igrejas ao compromisso de sempre avançar, para levar o evangelho da graça e salvação a todos os municípios do nosso grande e desafiador Estado.”