A coordenadora nacional de Proteção à Criança e ao Adolescente para a Mocidade Para Cristo no Brasil (MPC), Andrea Espírito Santo ministrou curso em março no Centro de Missões da Faculdade Teológica Batista de São Paulo (FTBSP).
Dia 18 de maio é lembrado como data nacional
no combate ao abuso e exploração sexual
contra crianças e adolescentes
O encontro contou com cerca de 50 participantes, sendo a maioria (mais de 90%) composta de mulheres, entre elas a ex-ginasta Daiane dos Santos, atualmente responsável por uma organização não-governamental que atua com o público infanto-juvenil em Paraisópolis, zona sul da Capital.
Parte desse assunto foi alvo de reportagem da edição 8 da Revista Batistas SP (BSP), cuja capa tratou do Ministério em Presídios. A entrevista feita pela reportagem da CBESP com Andrea e Daiane complementa o texto da BSP (“Mantendo-as longe do mau“).
O ambiente religioso é muito machista. Isso leva às subnotificações e à proteção do abusador?
Sim, infelizmente pelo nosso ambiente ainda acontece muito a proteção do abusador. Precisamos rever a nossa maneira de responder ao que a Bíblia ensina, não só como batistas e evangélicos, mas como pessoas em si.
Devemos mostrar para as adolescentes outro lado da questão da sexualidade, evidenciando o crime, o abuso, a lei, pois elas estão em um “sistema”, e não sabem como a sexualidade é na realidade.
Se todos os ministérios falarem em uma linguagem só às crianças, país e responsáveis, isso vai transformar o nosso comportamento. Mesmo com alguns questionamentos, eles vão aprender e perceber que é tudo prevenção. Falar do assunto e não escondê-lo é muito importante pra toda a igreja.
Somos de uma sociedade machista e patriarcal, é claro que é relacionado a nossa cultura geral, e infelizmente por conta disso, as vezes alguns líderes podem achar algo comum ou não tão importante.
Como estabelecer um ambiente de confiança para as crianças dentro das igrejas?
Assim como elas sabem quem é o “tio” responsável pela classe, aula, lanche, limpeza, banheiro e outros, elas também devem saber que existem pessoas responsáveis pela proteção. É necessário falar sobre esses assuntos a partir do ministério infantil e com as lideranças, capacitando as pessoas a tratarem com crianças e com adultos de maneira apropriada.
O mais difícil é começar, mas devemos planejar essa prática no dia a dia. Não é simples, leva tempo e compromisso, mas depois de a igreja aprender a ouvir e a lidar com isso, vira rotina.
Como reagir a uma denúncia quando ela chega?
Uma vez, uma criança contou que o “tio” da escola tinha abusado dela, mas na verdade quem abusava era o pai, só que ela não conseguia falar disso, não sabemos por qual motivo. No fim tudo foi descoberto, mas o funcionário foi afastado da escola e teve toda uma repercussão no bairro.
Mas infelizmente, não podemos na dúvida não denunciar. Se a criança contou, devemos denunciar e ir atrás. Porém, isso deve ser buscado pela verdade, com cuidado e sigilo em certar situações.
E quando o abusador é quem procura ajuda?
Ele merece ajuda, e algumas vezes deve ser ajudado mesmo pelo pastor. O abusador é tratado por dois lados, como pessoa, mas também pelo o crime que ele cometeu. Isso não impede que ele seja tratado e acolhido como filho de Deus, mas ele deve pagar pelo crime.