Ações solidárias marcam reflexão da Batistas SP

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Na reportagem principal da edição 20, a Revista Batistas SP (BSP) decidiu enfatizar a pandemia mesmo após três meses de distanciamento social e diante de uma cobertura forte e ininterrupta da grande imprensa. A abordagem do veículo oficial da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), no entanto, primou por expressar o alento de Deus através da compaixão e generosidade. O texto está reproduzido na íntegra. A edição da BSP20 teve formato exclusivamente digital.

A revista apresentou ainda em suas páginas outros conteúdos, como os artigos escritos pelas lideranças das organizações batistas do estado de São Paulo, e a sequência da série “Doar é Amar”, abordando, desta vez, a doação de leite materno. Esse conteúdo vem sendo produzido pela jornalista colaboradora Edna Geraldo. Clique aqui e tenha acesso a essa e a edições anteriores. No Aplicativo CBESP, as revistas estão acessíveis na seção “Conteúdo”. 

Olhando para famílias necessitadas, a CBESP lançou em março nova etapa da campanha solidária iniciada no começo de 2020 (Arquivo CBESP)

Por Chico Junior

Das virtudes manifestas entre – e pelas – pessoas, a solidariedade é uma das que mais capturam os corações e constrangem. Certos personagens das narrativas bíblicas ganham contraste justamente por práticas solidárias, como o homem generoso na parábola do samaritano. A razão é bastante compreensível, pois se trata de um ato desprovido de contrapartida. “Compaixão é a sua dor no meu coração”, afirmou o escritor E. C. McKenzie. Esta edição da Revista Batistas SP traz relatos de algumas ações e atuações feitas para amenizar sofrimentos. Pequenas pontes entre o amor de Deus e a aflição humana.

Igrejas, pastores e IMB se uniram a ação (Arquivo CBESP)

A iniciativa de mobilização humanitária desenvolvida pela Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP) pertence a esse cenário. Denominada de CBESP Solidária Covid19, a campanha vem distribuindo desde março alimentos para famílias carentes afetadas financeiramente pela pandemia de coronavírus e isolamento social. Os valores foram doados por empresários, povo batista, pastores e igrejas para aquisição de cestas básicas e itens de higiene pessoal. A ajuda contou ainda com reforço da International Mission Board (IMB), mediante o pastor e missionário Scott Pittman. O suporte logístico é voluntário do ministério Abençoados Motoclube, liderado pelo pastor e motociclista Marcos Vicente.

“Minha gratidão a todos que estão doando para a campanha CBESP Solidária. Já distribuímos mais de 1.000 cestas. Foram mais de 15 toneladas de alimentos. Seja Deus glorificado pelas ações de compaixão e graça”, disse o diretor executivo do Conselho de Administração e Missões da CBESP, pastor Adilson Santos, que esteve presente em todas as operações de entrega. De acordo com cálculos de organizações humanitárias, cada cesta básica possibilita refeições para uma família de até cinco pessoas.

‘A igreja pode ser ferramenta positiva’
Pastor Tomás Mackey, presidente da BWA, sobre atuação pós-pandemia

Outra medida integrada à campanha é a canção composta e gravada a pedido do pastor Adilson pelo violeiro batista Vitor Quevedo. A música orienta a prevenir a transmissão do coronavírus e foi veiculada no início da pandemia – para ouvir, clique aqui. O músico não exigiu cachê nem fez menção a qualquer tipo de remuneração. Gestos solidários são vistos vindo também de outras frentes missionárias. Uma das mais significativas está entre as equipes da área da saúde, profissionais que atuam ininterruptamente para combater e revigorar pacientes, e entre pessoas enlutadas. 

“Estou na linha de frente, principalmente no momento do óbito, confortando e orando com as famílias, e até indo tratar de detalhes e oficiar o sepultamento de vários pacientes”, disse o pastor Moisés Santos, missionário da Capelania Hospitalar da CBESP. Ele comentou que o ambiente hospitalar foi severamente afetado com as medidas de restrições, e, com isso, o contato com colegas ficou restrito. Ainda assim, vem conseguindo atender a alguns médicos e enfermeiros. O quadro principal deles é de estresse.

O capelão destacou a conversa com familiares de pessoas hospitalizadas como uma chance de oferecer uma palavra amiga. Questionado sobre a presença missionária batista para pacientes e parentes de infectados e os profissionais da saúde, pastor Moisés argumentou que estar nos hospitais neste momento de pandemia “tem sido fundamental”. “Conseguimos um total de 12.000 máscaras com as doações das igrejas”, exemplificou acerca da operação das equipes na confecção de máscaras para os profissionais da saúde.  

Em transmissão ao vivo num bate-papo virtual com batistas capixabas por uma rede social, o pastor Tomás Mackey, presidente da Aliança Batista Mundial (sigla BWA, em inglês), comentou que o cuidado social, além da oração e da mensagem de alento, está entre atitude essencial e necessária dos cristãos, em particular, do povo batista em cada localidade atingida pela pandemia de coronavírus.  

“Parte do problema é interno, espiritual, não só material. É um problema enfrentado mundialmente e é preciso buscar estratégias especiais, distintas, pois as realidades de cada país demandam ações específicas”, afirmou sobre as propostas de ajudas humanitárias realizadas individualmente, por igrejas, associações e convenções.  

Com falas sempre em tom pastoral, Mackey ainda compartilhou palavras de fortalecimento espiritual às demais lideranças batistas. “A responsabilidade de nós, líderes da Aliança, é encorajar as convenções e as pessoas a prosseguirem. A pandemia não é o final. É uma situação complexa, mas é preciso seguir. Deus nunca perde o controle das situações”, enfatizou. 

A expectativa para a igreja pós-pandemia é de protagonismo e atividade numa sociedade secularizada. “A igreja sábia pode ser uma ferramenta positiva”. Ele ressaltou que será necessária atenção do povo de Deus para quadros de depressão e abatimento nas pessoas. “O povo batista é um povo bastante solidário. Nós vamos ver, aliás, já estamos vendo a operosidade generosa de muitos irmãos, de igrejas e de pastores aqui em nosso estado de São Paulo em diversos atos de doação”, disse o presidente da CBESP, pastor Genilson Vaz.

Capelania prisional vive momento delicado (Canva)

Mais delicado para atuação, o ministério de Capelania Prisional da CBESP foi impactado com a proibição de visitas, medida motivada em face do distanciamento social. “A suspensão das visitas comuns, bem como o direito à visita religiosa, é um elemento de estresse e agravamento de doenças emocionais, como a depressão, pânico, surto psicótico, desespero e aumento de suicídio”, avaliou o pastor e capelão Oséias Ribeiro. Ele completa dizendo que um preso mais tenso, sem alguém que o faça lembrar quem ele é diante de Deus, contamina o ambiente. “E isso reflete nos funcionários e em todo corpo diretivo da unidade”, afirmou. 

Pastor Oséias contou que recebeu recentemente uma correspondência de um ex-preso. “Era uma carta carregada de gratidão pela presença da Igreja Batista na vida dele, e de muitas memórias. Lembranças de como ele  estava no presídio, cheio de sentimentos de vingança pelos que o prejudicaram, e do vício em cigarro. Lembranças de nossa atuação ministerial na unidade e de como nosso obreiro local lhe estendeu a mão enquanto ele próprio não acreditava em sua mudança. Lembrança de como a Igreja Batista o acolheu, e de como fazemos falta na vida de pessoas como ele. Assim, diante dessa resposta positiva do que vínhamos fazendo, pois disso sentem falta, eu acredito que corresponder com eles por carta lhes mantêm a esperança e a fé firme em Cristo Jesus”, disse ao falar sobre o valor e dos resultados da atividade pastoral para esse grupo em circunstância como esta atual de forte impacto emocional. O capelão incentiva ainda a correspondência e envio de produtos de higiene pessoal para os internos. “A comunicação por carta com o preso nesse tempo substitui uma visita e leva a eles uma mensagem de esperança, de que estamos aqui e não nos esquecemos deles.” A solidariedade faz o amor divino brilhar mais intensamente em tempos de dor.

*Reproduzido a partir da Revista Batistas SP (Ano IV / Edição 20).

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