A necessidade e a importância de reflexão sobre a política – além do ano eleitoral – e da participação cidadã, abordada, aliás, em evento promovido pela Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), movem as sugestões de livros apresentadas na edição setembro-outubro da Revista Batistas SP. A seção Cultura trouxe entre dicas as obras de Miroslav Volf e Davi Lago. Um croata e outro brasileiro. Ambos, porém, abordam esse pertinente assunto da correlação entre os discípulos de Jesus e a vida pública. Os títulos desses teólogos foram lançados neste ano pela editora Mundo Cristão.
Com frases contundentes e lapidares, “Brasil Polifônico” é um excelente livro para quem discute – em vez de conversar – sobre o trânsito de evangélicos e protestantes no ambiente da política, porém ainda carece de conhecimento sobre os dois temas.
CBESP tratou de cidadania e política em fórum
O texto de Davi Lago é bem fundamentado. O sólido embasamento vem a partir de referências aos clássicos das ciências política e social e do uso de textos teológicos e bíblicos precisos e na dose certa. As duas frentes cooperam para minimizar achismos, de quem desconhece campos jurídico, filosófico, político, e também não sabe diferenciar as posturas entre cristãos do movimento, englobando tudo no rótulo “evangélico”.
‘Conversar sobre achismos é destruir a realidade das questões políticas e criar uma ficção que nos agrade.’
Davi Lago, em “Brasil Polifônico” (208 páginas – R$ 34,90)
O pastor batista faz questão de pincelar em cada página quão caro é o valor da liberdade de consciência, riqueza presente, aliás, na Declaração Doutrinária dos Batistas. O autor defende também os princípios constitucionais, argumentando que a “pós-verdade”, a qual transforma “discussões emocionais, sem que a realidade concreta importe tanto”, vem levando a graves desvios. “Por definição, sem diálogo não existe política ou democracia”, sinaliza. Esse é um dos pilares apresentado pelo teólogo mestre em Teoria do Direito sobre os marcos da sociedade moderna originados da tradição judaico-cristã e da reforma protestante.
Enquanto “Brasil Polifônico” saiu do forno neste ano, “Uma Fé Pública” (R$ 39,90) foi escrito originalmente em 2011, e ganhou sua edição em português no momento oportuno de 2018. A obra é dividida em dois blocos. O primeiro traz quatro capítulos sobre elementos de oposição à fé engajada. Já a parte seguinte apresenta três capítulos com argumentos para a fé prática.
‘Os promotores da violência que procuram
uma legitimação religiosa são, estatisticamente,
uma reduzida minoria entre os cristãos (e o mesmo acontece também com outras religiões).’
Miroslav Volf, em “Uma Fé Pública”
O teólogo croata faz questão de destacar a necessidade de “cidadãos religiosos”, como chama os cristãos, de estarem e participarem da esfera pública. Miroslav aponta também que essa liberdade deve crescer no ambiente plural. Semelhante a Davi, ele destaca que o pluralismo político “emergiu no seio do cristianismo”, mesmo não sendo a posição cristã, e se opõe ao totalitarismo religioso – ou de outra ordem.
As 203 páginas do título também são construídas com citações de peso e com apologia aos valores cristãos e democráticos. O autor se preocupa em refutar posições que defendem o predomínio – ou o próprio domínio – da conquista de uma religião sobre a arena pública – tolhendo direitos e liberdades. Doutor em Teologia, Miroslav afirma que falar numa voz cristã é falar com base em “duas convicções fundamentais: que Deus ama todo mundo, incluindo transgressores, e que a identidade religiosa está circunscrita a fronteiras permeáveis”.
A obra “Uma Fé Pública: como o cristão pode contribuir para o bem comum” coopera para fazer do seguidor de Cristo um instrumento afiado nas mãos do Senhor a fim de ser luz no mundo e abençoar com a devida proporção de sal.