Pastor Jonas Madureira fala sobre desafios do ministério

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Durante a primeira semana de janeiro foi realizado o 76º Retiro da seção São Paulo da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB-SP). O encontro, que contou com cerca de 400 pastores, teve como um dos preletores o pastor Jonas Madureira, ministro da Igreja Batista da Palavra, na Capital. Ele conversou com a reportagem da CBESP sobre o ministério pastoral, seus frutos e desafios.

Mais informações sobre o retiro, sediado no Acampamento Mary Elizabeth Vaugham, em Sumaré, estarão na próxima edição da Revista Batistas SP. Para adquirir kit com as mensagens, basta entrar em contato com Samuel Moreira, da Água Viva Produções (h2ovivaproducoes@gmail.com).

Confira abaixo a entrevista com o pastor Jonas Madureira.

Pr. Jonas (centro) falou sobre suas mensagens e os desafios dos pastores com ministério, igreja e vida pessoal (Fotos: Sélio Morais/CBESP)

No geral, as mensagens foram exortativas? Por quê?

Sim, encorajadoras. Esse é um tema (O Pastor e Sua Consciência) que já pedia aspecto exortativo. Eu o escolhi mais pelo fato de ser resultado de uma longa reflexão minha, e por ser fruto de experiência de ministério pastoral. Entendi que poderia reverberar, uma vez que seria uma espécie de tradução de uma experiência comum que temos no ministério.

O senhor trouxe para fora uma crise pessoal?

Não tem pregação que não venha com cara de crise. Ela é natural na produção de qualquer discurso. Se você não apresenta o problema e a solução dele, você não tem o que dizer. As pessoas sempre apresentam diagnósticos e caminhos para as crises.

Vem sendo mais frequente pastores destacarem a fraqueza pessoal. Por que temos migrado daquela figura do ministro “inabalável” para a figura do pastor mais frágil, mais humano?

Eu acho que pela própria reputação do ministério, fragilizada diante de eventos inegáveis. Você consegue esconder uma formiga numa sala, mas não um elefante. A situação hoje é complexa por ser igual ao elefante, ela é visível. Você vai de um ponto a outro, da supervalorização a subvalorização do ministério.

‘As mensagens do retiro de pastores foram encorajadoras’

A ideia é trazer um equilíbrio, recuperando a dignidade do pastor sem torná-lo num objeto obsoleto, mas como um mordomo que serve ao propósito da Palavra de Deus.

Consciência é um aspecto subjetivo, mas quanto a Palavra de Deus, ela é algo objetivo. Como trabalhar ambos sem permitir que a consciência caminhe para a uma linha um “neo-herege”, como caracterizou numa das mensagens?

Enquanto não recuperarmos uma política de autoridade das Escrituras, perderemos o único elemento crítico do nosso discurso. Preciso ter algo mais poderoso que meu discurso, e se isso não for a Palavra de Deus, será a opinião pública ou a minha própria, mas quando temos a Palavra, temos um critério para verificar. Tudo isso envolve perspectivas, que vêm acompanhadas de uma consciência.

O que quis trabalhar aqui, foi que a consciência é uma espécie de tripé, dívida na que o pastor deve ter diante do desafio da pressão popular, diante do desafio daquilo que é a característica natural do pastor, a “natureza do ser pastor”, que é ontológico, e por fim, o aspecto da consciência com relação ao cuidado com o outro. Em especial, não do outro como igreja, como um todo, mas aquele mais perto de nós, o companheiro, aquele com quem trabalhamos junto. Ninguém faz a obra de Deus sozinho. O ministério não pode ser a caminhada de um lobo solitário, não é a história de um herói. Ele (ministério) se assemelha com a história de “O Senhor dos Anéis”, como abordado aqui. Ministério é a caminhada de “Frodos e Sams”. De gente que tem a missão de caminhar junto com outros para chegar à conclusão.

Em vários momentos o senhor destacou o intelecto a serviço da espiritualidade. Como balancear isso? Como evitar o academicismo, mas cultivar a espiritualidade sem ir para extremos?

Você tocou na palavra correta: academicismo. Ele é doentio e desequilibrado, idolatra a informação, o conhecimento enciclopédico, que é usado para medir força, medir “inteligência”, e não comunica a humildade que sempre deve ser característica do pensador pastor. O teólogo público, é acima de tudo, pensador, mas não quer ficar numa torre de marfim, ele quer comunicar às pessoas os pensamentos aprofundados na academia.

O melhor jeito de juntar essas coisas é não tentar uni-las. Não são coisas contraditórias, são atraídas uma a outra, e se você permitir que elas se misturem e garantam a Palavra de Deus, você não tem mais com o que se preocupar. Quando colocamos uma ao lado da outra entramos em crise. Mas o pastor hoje é a fusão disso. 

‘Ninguém faz a obra de Deus, não é a história de um herói’

Por isso leva tempo, na medida em que pastores não vão alcançar essa habilidade somente no seminário. O seminário é apoio, não salvação. Não podemos transformá-lo em um ídolo, como Nietzsche dizia, ídolos tem pé de barro, e uma hora ele cai.

A formação pastoral vem da igreja, vem de pastor para pastor, de convívio, aprendendo e imitando ações de outros pastores. Quando imitamos alguém tocando um instrumento, é assim que aprendemos a tocá-lo. Assim, aprendemos a pastorear imitando pastores e seus modelos.

A realidade da maioria dos pastores é: trabalha parcial e precisa fazer sermão, mas há família e demandas que surgem “do nada”, e o paradigma da pregação é muito alto, com estudos e aplicações pessoais. Como equilibrar tudo isso?

A pessoa que almeja o ministério pastoral deve saber separar prioridades e organizar a vida. Algumas pessoas não conseguem fazer o que querem simplesmente por falta de organização. Então a primeira coisa a fazer é olhar a agenda e ver o que é importante para a sua missão.

É questão de disciplina, e infelizmente alguns de nós pastores padecemos disso. Precisamos lutar contra os contingentes que comprometem nossa missão maior. Fazendo isso, equilibramos todo o resto, tanto para nosso chamado, quanto para nossa vida pessoal.

Quando fala do pastor com a responsabilidade de instruir na igreja, não terceirizar, fiquei pensando nos pastores auxiliares. As necessidades são inúmeras, e o pastor, às vezes, tem o colegiado. É apenas o titular que deve assumir essa tarefa?

Eu tenho dois pastores comigo e mais 12. Dos 12, seis solteiros que estão sendo treinados. O restante, todos casados e candidatos ao ministério pastoral. Treino eles, e toda semana eles devem ler uns três livros em média, e nós os discutimos juntos. Eu estou formando eles. Eles usam minha biblioteca, minha casa, eu abro isso para eles.

Quando digo que não pode terceirizar, não significa que outras pessoas na igreja não podem dar aulas, mas sim que é o pastor quem tem que ensiná-los a fazer isso.

Isso não centraliza a igreja? No sentido de deixá-la com o perfil do próprio ministro?

Acho que não, porque cada um vai ter sua área de atuação. Não sou especialista em hebraico, mas quero um na minha igreja. O pastor não tem que ocupar o lugar dos músicos, ele tem que reger a orquestra. Eu acho que é mais sinfônico do que centralizador.

Encontro anual dos pastores foi realizado entre os dias 2 e 5 de janeiro, em Sumaré, e contou com a presença de 400 ministros de todo o Estado
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